Havia um rei que possuía varias filhas muito bonitas, sendo a caçula a mais bela. A princesa mais jovem costumava brincar com sua bola na floresta próxima a um poço. Certo dia, a bola cai no poço. A princesa se desespera e concorda em se tornar amiga de um sapo que se apresenta para recuperar o brinquedo. Assim que obtém o objeto de volta, a princesa se refugia no palácio não cumprindo a promessa feita ao coachante. No dia seguinte, o sapo vem reclamar os seus direitos do acordo, o rei pergunta á filha sobre o acontecido, ao que a obriga a aceitar o animal como seu amigo. Quando a princesa concorda em tê-lo em sua cama, o sapo se transforma em um belo príncipe.
Quem já não ouviu essa história? Eu já, por várias. Fiquei encantada ao descobrir todo o “mistério” do significado que existe nesta narrativa. Durante toda minha vida realizei várias leituras de contos de fadas, mas só na fase adulta pode compreender o que realmente as narrativas estavam a me ensinar. De todas as leituras teóricas realizadas durante a primeira unidade, o texto: Atribuindo significado ao texto: “O príncipe encantado”, me chamou a atenção em especial, pois quando criança ouvi por várias vezes a bela história do sapo que se torna príncipe, desta história me foi dada uma orientação moral (a partir de uma leitura pessoal), em que fui ensinada a ver a pessoa por dentro e não somente por fora, o verdadeiro príncipe é uma pessoa “boa de coração”, me ensinaram também a ser verdadeira, a ser obediente e assim apareceria um príncipe encantado em minha vida. Porém descrevo aqui um novo significado do príncipe encantado, descrito pela professora Marly Amarilha, tendo referência de Jung(1988).
Ao analisar os contos de fadas Jung respeita a complexa variação da personalidade de cada pessoa nas personagens, assim como cada ser humano tem sua múltipla personalidade, o personagem descrito nos contos de fadas também mantém essa característica. Para ele os contos são expressões do inconsciente, assim como os sonhos que possuem personagens, drama, conflitos e solução. Ele estabelece então uma relação de sonhos e contos. Nas sociedades primitivas os contos eram sonhos individuais contados para o coletivo. Desta forma o conto seria um conflito interior em que as atitudes e/ou as situações são preservadas conforme o inconsciente do ser humano.
O que conto “O Príncipe Encantado” pode nos ensinar então?
A princesa ao deixar sua bola cair no poço, vivencia um momento de conflito. O dilema de como resolver o problema, ou seja, de como regastar a bola, atribui no inconsciente um conflito; ao descer no poço a bola representa um aprofundamento no inconsciente, neste momento aparece o sapo, que em sua forma animal causa medo, perigo e ao mesmo tempo representa o próprio inconsciente, pois é nele que estão os valores escondidos, mas assustadores. Diante dessa situação de conflito a princesa se desespera e aceita o acordo, porém não cumpri, pois existe uma resistência do novo em no inconsciente. O Rei então se apresenta na narrativa como um aconselhador, ajudando assim a princesa a rever a sua situação e ao mesmo tempo a induz a tomar a decisão a partir de uma visão dos valores morais. Ela então obedeci ao Rei. Existe então nesse momento um fluxo de lógica entre o consciente e o inconsciente, a morte do sapo e o nascimento do príncipe representa a conquista consciente de aspectos obscuros da alma e resulta em nascimento.
A riqueza desta análise dos contos de fadas nos mostra a importância da leitura literária infantil. Ao ler os textos literários, parece exatamente que vivenciamos um sonho, vivenciamos novas experiências, e ao mesmo tempo criamos novas situações, embarcamos em uma viagem e inconscientemente morrem sapos e surgi príncipes. Essa experiência contribui significativamente na construção leitura da criança e como também na própria forma de agir em diferentes situações, abrindo caminho para possibilidade de resolver problemas. Aprendi que é indispensável à leitura dos contos fadas na sala de aula, deixar as crianças livres para vivenciar experiências de heróis, de criar novas situações é uma forma de aprendizagem, além disso a leitura torna-se bem mais significativa e prazerosa.
AMARILHA, Marly. Atribuindo significado ao texto: "O príncipe encantado".In:Estão mortas as fadas? Literarura infantil e pratica pedagogica. 8.ed.-Petropolis, Vozes, 2009.
Por : Rafaela Bezerra Estevam
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